sexta-feira, 26 de junho de 2009

03. O Espaço

03.1 O Espaço Arquitectónico

Neste tema de Teoria da Arquitectura, o espaço funciona como ferramenta de trabalho do arquitecto.
Um espaço constante e homogéneo pode ser modificado para que haja diferentes compreensões desse mesmo espaço. Assim, o olho é o instrumento que permite o ser humano compreender as formas e os objectos arquitectónicos levando a uma percepção arquitectónica, que é uma qualificação do espaço através da visão. A percepção já é um instinto que o Homem tem para compreender o espaço arquitectónico.
Deste modo, o objectivo final da arquitectura não está no objecto final mas sim no elemento que forma o limite da massa (espaço arquitectónico ou vazio transparente). Não se trata da massa do objecto mas sim da sua pele.
·Caja de Ahorros, Granada
Campo Baeza, A., 2002

Embora compreendamos o volume e a forma através da visão, o importante na arquitectura é o vazio que está lá dentro, o olho apenas estabelece o limite desse vazio, sendo que o limite não é mais que o fechamento/captura do espaço.
O espaço arquitectónico não é um elemento tangível, mas antes um elemento que está sempre limitado por uma pele/limite. A forma como percebemos o limite vai influenciar o que sentimos quando estamos dentro do espaço arquitectónico.

·Meditação de Rembrandt

Neste quadro, a luz é uma qualidade do espaço arquitectónico que não pertence à arquitectura mas sim à vida e ao mundo, mas que é utilizada na arquitectura para capturar a ideia de limite. Não só é um material para a arquitectura, mas também é uma matéria concreta/contínua uma vez que tem volume. A luz é como um líquido viscoso que se pode mover para a criação de efeitos na arquitectura.
Ao modificarmos as qualidades do espaço através da luz, mudamos também a forma de perceber esse mesmo espaço. Podemos então qualificar a luz em termos de densidade e intensidade.

Tipos de Luz
Qualidade:

1. Luz Sólida
2. Luz Difusa

“Forma, espaço e ordem”
F. Ching

Com esta citação, Ching pretende dizer que sem a luz, a arquitectura não chegava a cumprir os seus objectivos, pois é uma matéria inevitável que consegue criar espaços.
Assim, com a luz sólida podemos compreender o limite entre o que está em sombra do que não está, e com a luz difusa, uma luz norte, torna-se mais difícil de a capturar, não conseguimos compreender totalmente o que está em sombra e o que está em luz.

Direcção

1. Luz Horizontal
2. Luz Diagonal
3. Luz Vertical

Sobre a luz horizontal, podemos dizer que entra por um plano vertical, e que durante muito tempo, durante grande parte da História da Arquitectura, apenas se construíam planos verticais para a introdução de luz horizontal.
Acerca da luz diagonal, é uma luz que entra por uma parte mais elevada, o que acontecia na altura do gótico, pois construíam edifícios bastante altos com janelas igualmente altas para que a luz diagonal pudesse entrar.
Finalmente, a luz vertical é um tipo de luz que praticamente só apareceu no movimento moderno que foi quando se conseguiu a entrada de luz vertical por um plano horizontal, através de vidros e plásticos.

1.Luz sólida

·Panteão de Roma, 27 a.C.

Este foi um edifício feito para os Deuses, onde existe uma luz vertical devido a uma cúpula com um óculo. Este é o único momento da História mais antiga que tem uma entrada de luz vertical, qualificando assim este espaço arquitectónico.

2. Luz Difusa


·Capela de Ronchamp
Le Corbusier, 1954

Esta capela tem uma abertura horizontal dando a noção de que o tecto está a flutuar, pois a luz é a única matéria arquitectónica que consegue lutar contra a massa e a gravidade, dando a ideia de limite na arquitectura. Mais uma vez confirmamos que o controlo da luz permite modificar espaços, bem como a sua compreensão.


·Box of Light and Shade, Cadiz
Campo Baeza, A., 2001

Campo Baeza tenta controlar as entradas de luz em termos de qualidade e direcção com o fim de criar determinados efeitos no interior. Pretende que a luz seja protagonista como material no interior, e é por isso que a sua arquitectura é branca e abstracta. Para ele os cortes são importantes para a compreensão do interior, estudando assim as entradas de luz entre outras coisas.



·Caixa de Ahorros, Granada
Campo Baeza, 2002

O edifício é uma caixa de luz. Baeza gera o efeito de sombra para criar uma luz difusa no interior frente aos planos horizontais com clarabóias como forma de entrar a luz vertical. Aqui a luz contém o factor tempo, uma vez que é através do movimento da luz que se nota que o tempo está a passar.

Fenómenos no espaço arquitectónico

Como foi referido anteriormente, o espaço arquitectónico está definido pela ideia de limite, no entanto, nós, como arquitectos, para imaginar como será o espaço arquitectónico, necessitamos de representar esse espaço, desenhá-lo antes da sua construção.

1. Apresentação
Durante uma apresentação podemos estar no interior do objecto arquitectónico e por sua vez compreendemos o limite. Trata-se da imagem real do objecto arquitectónico.

2. Representação
É a representação do espaço, ou seja, a compreensão do espaço através da representação técnica da arquitectura (geometria, desenho) para controlar o espaço final.

Métodos de Representação (Vitrúvio)

1. Ortografia: Volume – Massa
Com a fachada e o limite interior/exterior compreendemos o volume/forma do objecto arquitectónico. Há um estudo do volume/massa através de perspectivas.

2. Icnografia: Planta
Este é o modo de representação mais habitual, uma vez que mostra as relações interiores entre os espaços e marca diferentes espaços de circulação/funcionamento do espaço.

3. Cenografia: Secção – Perspectiva
Trata-se de um corte com perspectiva, que nos permite visualizar os aspectos construtivos e a sua utilidade. Aqui é possível representar em 2D um espaço de três dimensões, pois há uma tentativa de criar profundidade, desenhando um espaço interior de uma forma real.

·Museu Romano, Mérida
Moneo, R.

Não podemos medir a percepção, no entanto existe uma conexão virtual entre o desenho e a percepção do espaço interior. Aqui a perspectiva ajuda a compreender os espaços nos desenhos, bem como com os cortes, que nos mostra multiplicidade e interiores numa tentativa de compreensão dos espaços e deste modo conseguimos prever como irá ficar o objecto arquitectónico depois de construído. A arquitectura deve ter a capacidade de organizar o espaço para que seja facilmente dimensionável e controlável para que o desenho já possa transmitir as sensações que gostaríamos que as pessoas vivessem. Por isso é tão importante o controlo da perspectiva e do desenho.

Perspectiva como Racionalidade e Artifício
O Espaço Focal Clássico

A perspectiva é uma forma de racionalizar (compreender/controlar o espaço ou mudar de forma previsível o espaço) e é o que define um espaço estável, onde nos encontramos (espaço focal clássico).

Espaço Focal Clássico:

1. Constante
2. Homogéneo
3. Isótropo

Através do triedro arquitectónico podemos compreender o espaço, pois conseguimos ver as cinco caras do triedro, uma vez que estamos lá dentro. Não nos é possível modificar este espaço arquitectónico uma vez que não existe tempo no espaço, apenas no caso de introduzirmos um elemento, ou seja, só modificamos o espaço homogéneo e estável se começarmos a andar e a olhar esse mesmo espaço de diferentes pontos de vista.

Perspectiva como Racionalidade

Como já sabemos, a perspectiva é o grande meio de representação para mostrar o espaço clássico, uma vez que tem uma base geométrica, em que conseguimos dimensionar de forma exacta.
A perspectiva teve início no Renascimento quando os desenhadores criaram grelhas que usavam para desenhar de forma mais precisa e fiel a realidade (método dos quadradinhos).

·“A Trindade”, Masaccio

Na pintura a perspectiva era utilizada para dar mais profundidade.

·San Lorenzo, Florença
Brunelleschi

Aqui o importante é o espaço arquitectónico. Neste caso, com o uso da perspectiva, a realidade podia ser o desenho prévio. O importante não é a fachada exterior mas sim a configuração do espaço interior que para o racionalizar, Brunelleschi utiliza a perspectiva.

·Casa Tateshina, Nagano
Kishi, W., 1992

Na casa Tateshina o tema principal é a cobertura, que por não ser plana cria um primeiro conceito de lugar como na cabana primitiva, tentando estabelecer deste modo um diálogo entre a cobertura (abrigo) e a parte inferior (o lugar da vida/fogo). Kisho deixa o limite entre a cobertura e o espaço inferior livre e utiliza uma grelha geométrica para que se compreenda o interior. Outra característica interessante é o facto de os elementos estruturais estarem visíveis para que do exterior se compreenda o espaço interior. Este fenómeno também acontece no interior para que se percebam as dimensões, e utiliza a perspectiva para ligar a fase de projecto à realidade.

Perspectiva como Artifício


·Praça de S. Pietro, Roma
Bermini, G. L., 1662

O arquitecto utiliza a perspectiva como método de representação mais exacto para compreender o que vai ser construído posteriormente, e é através dela que modifica a percepção das dimensões da fachada aos nossos olhos. Com a forma de um trapézio ilude o receptor pois a fachada da igreja parecerá mais pequena. A intenção de Bermini é que a fachada principal da igreja pareça mais pequena para que a perspectiva da cúpula pareça mais próxima. Modifica ainda a sensação de permeabilidade do interior da praça frente ao exterior da mesma através das colunas.


·Malevick

Aqui está representado que um espaço homogéneo pode ser modificado. O objectivo era criar movimento e dimensão na pintura estável, para tal serviu-se de trapézios que funcionam como rectângulos em movimento.

·Mid – Atlantic Toyota Distributors, Mary Land
Gehry, F. Ll., 1978

Gehry usa mecanismos da pintura para criar ilusões na arquitectura, assim no interior joga com elementos que são percebidos com planos em fuga tal como no quadro de Malevick, conseguindo deste modo o efeito de inclinação e profundidade. Com jogos de perspectiva consegue misturar a fuga real (dos olhos) com a fuga artificial, bem como com o uso de vigas e vãos, dando dinamismo e movimento à arquitectura, havendo assim uma multiplicidade de percepções num espaço homogéneo.


·Pavilhões, Parque Natural Hoge, Veluwe
MVRDV, 1996

Há aqui a criação de um elemento quase escultórico. Com a acentuação de perspectivas criam-se efeitos nos pavilhões quando vistos de fora, e o facto de cada pavilhão ter uma materialização diferente dos outros ainda acentua mais esses efeitos. Além disso, o material de cada pavilhão é o mesmo desde o tecto ao chão passando também pelas paredes. Conseguem deformar os pavilhões como se trata-se de uma fotografia, no entanto, só temos a noção completa do edifício se andarmos em seu redor.
Resumindo, o espaço arquitectónico pode ser modificado pela intervenção de luz e através da perspectiva podemos criar ilusões na arquitectura.

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