quinta-feira, 25 de junho de 2009

02.3. Racionalismo/Funcionalismo


Reflectindo um pouco sobre o anteriormente estudado, sabemos que a função é a ideia principal da arquitectura do século XX; o funcionalismo é o movimento arquitectónico do movimento moderno e o racionalismo serve para perceber e encontrar as razões/explicações para todos os elementos arquitectónicos. Sabemos ainda que Le Corbusier quebra a compreensão do objecto arquitectónico com o sistema dominó e citrohan.





·Fábrica de Turbinas AEG, Berlim
Beherens, P., 1902

Na fábrica AEG a forma depende totalmente da função, pois o desenho da obra e dos elementos faz publicidade à função, ao justificar todos os elementos de formas racionais. Esta é uma obra funcionalista, em que o objectivo era fazer uma nave com uma estrutura de ferro para criar uma grande dimensão interior uma vez que lá dentro teria as turbinas. Além de dar resposta à função, este edifício também tem outros aspectos que definem a sua forma, como a ideia de conversão da fábrica num templo para dar a noção de monumentalidade num edifício industrial. Há também uma nova interpretação da ordem e da tectónica de construção, em que cada pormenor está justificado e cada elemento está materializado segundo a função a desempenhar. Aqui, o aço é o elemento principal da construção e o tal carácter de monumentalidade reflecte-se nas colunas deixadas à vista dando a noção de templo e a cobertura como frontão. Esta não só é uma obra funcional como também muito racionalista, devido aos factores económicos, construtivos e sociais.

Princípios da Arquitectura Racionalista


Estes princípios dependem da situação política, económica e sociais da época.

1. Princípio Globalizador


Trata-se de um movimento internacional com um estilo internacional, ou seja, o arquitecto é capaz de trabalhar em qualquer lugar, é um arquitecto global, em termos de localização e de todos os factores em que tem que trabalhar para construir num determinado sítio.


·Bauhaus, Dessau
Gropius, W., 1926

2. Princípio da Austeridade


O arquitecto deve procurar sistemas construtivos baratos mas complexos. Aqui utiliza-se uma linguagem sem ornamento, uma vez que no princípio da austeridade, um dos pontos principais é a economia. Assim, utiliza a fachada livre, paredes brancas, vãos iguais e ainda faz um estudo sobre o aproveitamento do solo.



·Casa Steiner, Viena
Loos, A., 1910

3. Princípio Industrial


O edifício é visto como uma máquina em que cada elemento apenas serve para uma função específica, assim como acontecia para os racionalistas. Não há ornamento uma vez que este não responde a nenhuma função/objectivo, e transmite ainda uma ideia de fabricação em série, o que apoia a austeridade porque é mais económico, procurando assim uma estandardização da arquitectura.

·Maison Mas
Le Corbusier, 1938

4. Princípio Prioritário do Urbanismo


A arquitectura começa já no urbanismo, devido à falta de novas habitações o urbanismo deve vir antes do objecto arquitectónico para solucionar os problemas de localização, sendo a melhor solução os distritos urbanos. O urbanismo já é arquitectura uma vez que a influencia na sua localização.

·Plan Voisin, Paris
Le Corbusier, 1922

5. Princípio Social

A arquitectura surge como um resultado metodológico como solução de outros factores. Aqui a forma não está a tender para ideias pessoais ou subjectivas, mas para um controlo na sociedade. Pretende dar solução aos problemas da época.
·Cidade Operária Pessac, Bordeaux
Le Corbusier, 1925

Walter Gropius, 1883-1969


Walter gropius era um funcionalista. Este era o seu método próprio de trabalho. Compreendia a razão segundo três fases:

1. Procura teórica de todos os factores que intervêm em cada projecto;
2. Aplicação prática de tudo aquilo que era formulado teoricamente anteriormente;
3. Acto criativo de casa arquitecto.

Para ele, a razão deve ser o elemento principal para que a arte esteja ligada à sociedade.


·Fábrica Fagus, Alfel na der leine
Gropius, W., 1911

Esta fábrica é uma influência da fábrica AEG de Peter Beherens. A arquitectura da fábrica Fagus está ligada às actividades industriais e é isso que irá dar sentido a toda a sua obra. Nas esquinas não existe estrutura, uma novidade para a época, e assim cria a ideia de dissolução dos muros, pois a fachada é concebida de forma envidraçada, como a planta livre de Corbusier.
Walter Gropius compreende a arquitectura como a oportunidade de cada uma das partes apenas responder a uma função específica. Assim, se há a necessidade de introduzir luz, fazem-se fachadas envidraçadas e se são necessários suportes entre os vãos, então esses suportes serão mostrados. Aqui Gropius consegue que não haja diferenças entre a composição horizontal e a composição vertical, pois a fachada é plana, sem qualquer hierarquia entre o elemento vertical e o horizontal. A planta é assim uma sucessão de espaços ortogonais que nascem uns sobre os outros com o fim de criar um conjunto, e cada espaço tem a sua função. É também visível uma geometria estrita em termos de ortogonalidade e desde o exterior conseguimos perceber a estrutura do interior.

·Projecto para Edifício de Habitações
Gropius, W., 1929

Esta construção de habitações colectivas vem no seguimento do racionalismo, como forma de poder oferecer condições de salubridade tão boas como as habitações unifamiliares, contribuindo deste modo, para criar mais espaço urbano e uma maior extensão/elevação. A implantação da arquitectura sobre o terreno relaciona-se de uma forma métrica/matemática, onde existe uma razão estrita de como se deveria implantar o edifício no terreno. Estamos assim perante o Princípio Social, uma vez que todas as unidades de habitação apresentam as mesmas condições com o fim da igualdade social. Aqui Gropius liga duas tipologias: a escada de distribuição e o corredor de ligação das diferentes habitações. Deste modo, há uma tentativa de standardização de uma unidade mínima para que posteriormente possa ser repetida formando todo o bloco.


·Siemmensstadl Siedlung, Berlim
Gropius, W., 1929

Neste bloco todos as habitações têm a mesma orientação, de forma a sugerir os princípios de igualdade social, cujos principais problemas incidem no facto de embora as cidades ganhem espaços livres, a sua construção trás problemas de mobilidade interior do edifício, surgindo assim a necessidade de um elevador. Ora, o elevador era um sistema novo para a época, contrariando assim o factor económico de construção, bem como os problemas sociais acrescidos, pois as pessoas não estavam habituadas a estas novas formas de construção. Outro grande problema é a nível do urbanismo, uma vez que esta tipologia não tem a possibilidade de se ligar com a cidade clássica/antiga já que apenas pode ser construído na periferia e desenquadra-se da construção antiga.

Classificação do Funcionalismo

1. Funcionalismo Estrito
2. Funcionalismo Geométrico
3. Funcionalismo Orgânico

1. Funcionalismo Estrito

O funcionalismo estrito baseia-se em projectos onde existe uma distribuição geométrica precisa para cada uma das funções do objecto arquitectónico, gerando assim a sua volumetria, pois a função do interior define grande parte do objecto.
·Bauhaus, Dessau
Gropius, W., 1926

De origem Neues Bauen – nova construção, surge aqui uma nova forma de compreensão dos edifícios, em que cada volume do edifício é compreendido segundo uma função interior específica. Deste modo, este caracteriza-se como um agrupamento livre dos corpos construtivos, mas com um sistema compositivo prévio, em que há a recusa de simetria e gera-se uma nova ideia de perspectiva do edifício (este devia ser percebido de diferentes pontos de vista), só teremos a percepção global do mesmo se andarmos ao seu redor, quebrando assim a perspectiva clássica do homem parado. A Bauhaus está composta pela sobreposição de edifícios, em que cada um tem uma determinada função, e por isso também são utilizadas as janelas corridas, devido à importância da luz para se poderem desenvolver as práticas manuais dos estudantes. Este complexo é ainda composto por uma residência, onde estudantes e docentes partilham das mesmas condições para que não haja a noção de hierarquias. Existem ainda múltiplas ligações entre os diferentes edifícios, desde ligações horizontais entre residências e ateliers a ligações verticais entre os diferentes núcleos e gabinetes. Utiliza também a esquina quebrada (envidraçada) como forma de entrada de luz e as paredes já não têm a função de estrutural, podendo assim abrir-se completamente num vidro. Gropius tenta mais uma vez evitar as hierarquias não havendo então nenhuma fachada principal, ou seja, todas as fachadas são principais. Toda esta linguagem formal do exterior tem influência nos princípios da arquitectura racionalista.

2. Funcionalismo Geométrico

A geometria é o elemento principal que liga o objecto com a função para optimizar o espaço interior. Já não se trata de uma questão de espaço, pois a geometria vem dar resposta à função.

·Sanatório Zonnestral, Hilversum
Duiker, J., 1926

Este sanatório é composto por vários pavilhões e habitações intersectadas por corredores, para que o doente pudesse apanhar sol. Esta tipologia resultou de um estudo feito através de uma trama, acabando a repetição da geometria por criar o edifício completo, sendo que primeiramente foi estudada apenas uma célula mínima que posteriormente foi multiplicada e repetida formando assim todo o edifício.
·Hospital de Veneza
Le Corbusier, 1964

Para a construção deste hospital utilizou-se uma trama de baixa altitude (de modo a não competir com a altura da cidade) que vai crescendo. O módulo de geração do hospital foi repetido e colocado de diferentes maneiras dando origem ao resto do edifício. Existe também uma trama em que vários elementos são retirados para que haja a entrada de luz e a formação de pátios seja possível. Foi ainda estudada uma área mínima para os doentes que configuram a geometria de todo o conjunto.

Funcionalismo Orgânico


Existe uma relação harmónica entre o todo e cada uma das partes. Não existe qualquer hierarquia, apenas uma harmonia do como compreendemos o edifício no seu todo. Existe uma relação entre a forma e a função sendo que aqui não dependem uma da outra.


·Escritório Johnson & Son Company
Wright, F. Ll., 1936-39

Para a construção deste escritório houve uma compreensão dos elementos formais da natureza para serem posteriormente utilizados na arquitectura. O edifício foi concebido por uma multiplicidade de espaços que necessitam de iluminação, e para tal foram criadas estruturas em forma de cogumelo constituindo assim uma cobertura envidraçada e que definem a colocação das mesas do escritório, e é desta forma que apenas com um elemento que é repetido se consegue fazer uma entrada de luz fora do vulgar. Também a fachada é completamente envidraçada uma vez que a sua intensidade construtiva está numa coluna no meio que suporta todo o edifício ficando assim os andares suspensos. Aqui se demonstra o organicismo, em que o arquitecto tem de compreender a estrutura formal do elemento natural para posteriormente chegar à arquitectura.

Definições da Funcionalidade

1. Funcionalidade Técnica (Função – Forma)

Na funcionalidade técnica, “form follows function”, ou seja, há a perfeita adequação da forma à função.

2. Funcionalidade Existencial (Função – Habitar)

A funcionalidade existencial dá a possibilidade do Homem ter um lugar para habitar, havendo assim uma compreensão do conceito de lar.

3. Funcionalidade Utilitária (Função – Uso)

O uso interior é o que define a importância da função da arquitectura; é o programa dos edifícios.
02.2 Função e Razão

Procura da razão arquitectónica

Sabemos já que todos os elementos arquitectónicos estão por trás de uma razão lógica, uma razão prévia que condiciona a arquitectura. E isto já acontece desde a procura do arquétipo da cabana primitiva por Semper, em que este procura o elemento que dá resposta a condições prévias, chegando á conclusão que a cabana primitiva tinha por finalidade dar abrigo (proteger o “fogo”), e é por isso que esta tem características precisas - nó e a grinalda (construção da estrutura e cobertura para dar abrigo ao “fogo”). Assim sendo, esta é uma arquitectura baseada no necessário, em que a beleza está baseada na realidade.
Deste modo, tudo deve estar em função do edifício e todos os elementos devem estar ao serviço da função (objectivo). Nada se deve fazer sem uma razão e sem um fim.
·“Essai sur L´Architecture”
Laugier, M. A. 1752

Laugier afirma que tudo deve estar baseado numa razão para que ninguém possa criticar cada elemento arquitectónico, uma vez que eles já estão justificados. Tem que haver uma razão que explica casa um dos elementos da arquitectura.

·Carlo Lodoli (1690-1761)

Está presente uma ideia de hierarquia da função sobre a forma e defende que não deve existir ornamento na arquitectura por ser algo inútil, quer no interior, quer no exterior.

Assim, a arquitectura está baseada no necessário segundo quatro princípios:

1. Toda a sua beleza surge das necessidades do edifício;
2. Todo o supérfluo tem que ser eliminado;
3. Tudo depende da função, por isso temos que abandonar o desejo de adornar;
4. A arquitectura tem que perguntar a cada parte do edifício: Quem é? Para que está feito? Qual é a sua finalidade? Cumpre com a sua função?
“Principi di Architectura Civile”
Milizia, F., 1781

“Não exigimos a aprendizagem das formas, se não a análise das causas.”
“Entretiens sur l’Architecture”

Voilet-le-Duc, E., 1872
Com esta frase, Violet-le-Duc não vai contra as formas, mas sim contra as formas em si mesmo, pois o importante é voltar a trás e analisar as causas/razões prévias e so depois é que surgem as formas.
Nesta altura já se compreendia que havia certas condicionantes (lugar, função) que não havia nas outras artes, ou seja, apenas na arquitectura existe a razão, sendo esta o elemento que diferencia a arquitectura das restantes artes.

·Biblioteca Nacional, Paris
Henry Labrouste, 1845

A biblioteca nacional de paris é composta por formas rigorosas em que o uso dos materiais é completamente racional, pois estão aplicados segundo a função que irão desenvolver. Labrouste utiliza vidro e cristal para a construção das cúpulas (elemento construtivo geométrico) para dar resposta a uma função prévia, e a ornamentação é feita a nível mínimo.

Função e Razão s.XX


·Reichsforschungsgesellschaff
Klein, A.

O objecto dá resposta às condições prévias que posteriormente serão repetidas. Aqui, Klein procura o protótipo segundo várias funções/razões prévias, criando assim uma série de habitações onde procura as dimensões similares de exemplos similares para fazer a análise prática do que já existe com o fim de criar o protótipo da melhor casa, sendo este o elemento racional que estabelece a função do objecto arquitectónico.




·Vers une Architecture
Le Corbusier

Neste livro, Corbusier estuda a habitação em série, sendo que para ele, a casa é uma máquina de morar em que todos os elementos têm uma razão estrita. Aqui, há a ideia de criação de uma máquina para habitar como resposta às condições humanas da época, procurando assim a habitação em altura.
Para Corbusier existem três necessidades básicas humanas que são imprescindíveis para a construção de habitações:

1. O homem precisa de uma superfície horizontal – laje horizontal sobre pilotes.
Ou seja, a arquitectura encontra-se desvinculada do lugar.
2. Toda a função humana precisa de luz para ser realizada.
Assim as fachadas passam a ser fontes de luz em vez de paredes sólidas, pois a arquitectura deve ser uma fonte de luz e não um fechamento. Criam-se então as fachadas e plantas livres.
3. O tabique é um elemento que só delimita superfícies com distintas funções.
Deste modo, as divisões devem estar livres da estrutura, pois casa espaço tem a sua função. O fechamento interno passa a depender da função e não da estrutura.

·Villa Savoye
Le Corbusier, 1928

Esta é uma construção que segue o sistema dominó, em que o objecto arquitectónico está a resolver as questões prévias. A Villa Savoye é o símbolo do funcionalismo do século XX, pois Corbusier atribui à forma a beleza em si mesma, uma vez que para si, a arquitectura é o jogo magnífico das formas primárias. No entanto, este não é um arquitecto funcionalista estrito, uma vez que sugere uma contradição da procura da razão do objecto arquitectónico com a beleza das formas em si mesmas.

Há algumas diferenças entre o funcionalismo e o racionalismo, sendo que no funcionalismo a forma segue a função e no racionalismo a função é uma das principais razões que influencia a arquitectura, embora não seja a única.




·Casa Dominó
Le Corbusier, 1914

A casa dominó, como o nome indica, tem por base o sistema dominó de Corbusier, ou seja, as lajes são horizontais para que o ser humano possa desempenhar as suas necessidades básicas; há uma comunicação livre através do uso das escadas; a planta e as fachadas são livres e a casa é desvinculada do terreno. É chamado “dominó”, uma vez que uma habitação é como se fosse uma célula/peça do dominó que se pode unir a outras células e dá-se assim a possibilidade da realização de diferentes tipos de habitações, criando-se assim múltiplas tipologias habitacionais. Aqui, o edifício é pensado independente do lugar, pois este deve ser capaz de ser implantado em qualquer lugar. Outra característica é a planta livre que permite colocar as paredes internas em qualquer lugar. Ora, com este sistema, existem múltiplas possibilidades de desenho urbano.


·Maison Citrohan, Paris
Le Corbusier, 1920

Aqui, a casa é vista como uma máquina de voar, pois este modelo foi apresentado com um protótipo de um automóvel, uma vez que os poucos elementos da casa foram criados com uma razão prévia. Então, esta casa funciona como um protótipo, em que deve ser construída como um elemento individual. Nesta tipologia de habitação, não existem pilares interiores, ao contrário do sistema dominó. Aqui cria-se um espaço interior vazio, como se rodássemos as lajes horizontais do sistema dominó 90 graus, tornando-as verticais. Algumas das principais características do sistema Citrohan são os traçados reguladores, o uso de geometria muito estrita, as fachadas e plantas livres e ainda as janelas grandes. Este sistema pretende dar resposta às necessidades humanas.

A junção do sistema dominó com o sistema citrohan resulta numa sobreelevação do edifício.


·Cidade Operária Pessac, Bordeaux
Le Corbusier, 1925

Esta cidade operária caracteriza-se pela multiplicação da casa citrohan que formaram um distrito de habitações. Embora diferentes umas das outras, estas partilham da mesma estrutura formal.

·Maison Mas
Le Corbusier, 1938

A Maison Mas é uma casa pré-fabricada, facilitando, deste modo a construção da mesma, que pode ser efectuada no lugar e no entanto não deixa de ter a riqueza espacial tão importante para Corbusier. Neste caso, os elementos são mais fixos, já que não existe tanta possibilidade de os mudar, contudo continua a ter as características do sistema dominó/citrohan (fachada livre).


·Maison Loucheur
Le Corbusier, 1929

Aqui, a única ligação da casa com o envolvente é um muro no qual a casa está fixada, sendo então esta a única vinculação com o terreno. É uma casa com a planta livre em que o rés-do-chão é apenas um quadrado, para dar a noção de desvinculação e foi através deste projecto que Corbusier fez múltiplos estudos das superfícies de cada das funções que tinham de ser desenvolvidas nos espaços.

·Casa para Artesão
Le Corbusier, 1929

No interior desça casa, Corbusier conferiu-lhe uma multiplicação do espaço. Para tal, coloca as escadas de acesso do rés-do-chão para o primeiro andar na diagonal de forma a permitir a expansão do espaço interior, e o primeiro andar tem a altura mínima do modulor. Outra característica importante é o pilote central, que além de ser estrutural é também funcional (esgotos).
Aqui é visível que Le Corbusier não era assim tão funcionalista, uma vez que embora a funcionalidade esteja sempre presente nos seus projectos, existem certos elementos que o contradizem, como o facto de desvincular o objecto arquitectónico do lugar, bem como a sua colocação livre sem qualquer sentido.

O Bloco como Paradigma Moderno

Depois da destruição feita pela Primeira Guerra Mundial, era necessária uma solução rápida, social e económica para a construção de novas habitações, surgindo assim a habitação colectiva, ou seja, o bloco, que viria solucionar estes problemas da época.
Assim, com o Movimento Moderno, começam-se a estudar as possibilidades da habitação colectiva, que consistia na conjugação de várias habitações num só bloco, vindo este a ser o elemento principal do século XX.


·Plain Voisin, Paris
Le Corbusier, 1922

É um estudo da organização de habitações colectivas, procurando aplicar os princípios das necessidades humanas, tentando assim criar condições para que a cidade se possa desenvolver em termos urbanísticos. Os métodos utilizados são a geometria e um sistema de forma a criar da melhor maneira possível novos distritos habitacionais.
Apesar de Le Corbusier não ter conseguido realizar a sua cidade ideal, o seu espírito de criação de novas habitações racionais influenciou projectos futuros de outros arquitectos.

·Immeuble-Villa
Le Corbusier, 1922

Este é um novo bloco criado a partir da agregação de células individuais habitacionais em habitações colectivas. Esta ideia surgiu depois de Corbusier ter estudado a organização de um mosteiro aquando uma das suas viagens a Itália. Posteriormente transpôs alguns conceitos do mosteiro para a arquitectura, reservando o espaço interior para actividades sociais/públicas e o espaço exterior para a agregação de uma única célula no perímetro do espaço interior. Aqui, cada habitação é individual mas estão inseridos juntamente com espaços colectivos como ginásios e bibliotecas, funcionando assim o bloco como uma unidade autónoma, pois a casa é uma máquina de habitar.


·Romerstadt Siedlung, Frankfurt
Erns May, 1926-28

Erns May investiga como se devem agrupar estas novas formas de habitação, sendo Romestadt Siedlung um objecto destes estudos. Assim, ele encontra um primeiro modelo que consiste num sistema de agrupamento colectivo fechado com forma rectangular, no entanto esta tipologia não era a mais adequada devido a problemas de orientação e ventilação. No segundo modelo optou por no mesmo espaço multiplicar o quarteirão em bocados menores com o fim de multiplicar também melhores condições de vida a cada uma das habitações. Este modelo já resolvia os problemas de ventilação e organização tipológica, criando também novas entradas de luz, no entanto não era suficiente. Então, Erns May pensa num terceiro modelo em que converte a forma da fachada inicial em novas formas lineares e consegue assim uma forma social em que todas as pessoas usufruam das mesmas condições de vida, criou então um ambiente mais saudável. Este terceiro modelo é a tipologia do bloco hoje mais conhecida, em que existem entradas de luz natural e são conseguidas melhores condições de vida em todas as habitações. Neste tipo de edifício é necessário desenhar os acessos e estradas em conjunto com o próprio edifício.

·Weissenhof Siedlung, Stugart
Mies, L., 1927

Este foi o projecto de Mies num conjunto de vários edifícios ideais projectados por diferentes arquitectos numa colina com várias quintas. Assim, Mies optou pelo bloco, de volumes cúbicos, janelas corridas, coberturas planas, paredes brancas e elementos puros, sendo estas características uma influência do sistema dominó de Corbusier.
Deste modo, o bloco de Mies divide-se em quatro partes, formada por um elemento que é repetido quatro vezes (no entanto podia-se multiplicar por muitas mais vezes), e está apoiado num terreno ajardinado. Este bloco foi construído como um elemento único e como símbolo de todo o distrito. Tem duas fachadas principais, de igual importância, sendo estas as mais compridas, sendo estas as que têm melhor orientação. Um aspecto importante é a introdução de uma terceira fachada que é a cobertura plana, que é vista não só como abrigo mas como um elemento que também deve ser desenhado. No seu interior, as paredes são muito livres, pois apenas limitam as diferentes funções dos espaços. Deste modo, podemos obter economia na construção, uma vez que a casa pode ser pré-fabricada, bem como nos desenhos podemos já encontrar razões/justificações muito precisas, voltando assim ao racionalismo.

Assim, a procura de habitação em termos de bloco resume-se a:

1. Rigidez formal;
2. Negação do espaço urbano clássico;
3. Diversidade na distribuição.

Século XX, A Ruptura do Bloco


·Projecto Urbano Bijlmer, Amesterdão
OMA, 1986

Este é um projecto um pouco utópico, que consiste na criação de um novo distrito em que a ideia principal é a comunicação entre a cidade e a zona industrial, existindo assim uma relação habitação/espaço público. Aqui, os elementos são colocados como tramas habitacionais que unem dois lugares diferentes e é visível a sua rigidez formal nas fachadas principais e cobertura, contudo, já usufrui de uma geometria que se quebra e onde há sobreposição de estratos e tramas com o fim de criar o distrito e a ideia de ligação entre duas áreas diferentes da cidade.


·Urban Plan, Borneo, Amesterdão
West 8, 1993-97

O Urban Plan em Borneo, consiste numa série de distritos habitacionais virados para o mar, em que foi elaborado um masterplan para definir as condições de irão dar origem às habitações. Um dos elementos principais do estudo foi a densidade numa determinada área e para tal foi estudada a tipologia actual da habitação típica holandesa, e a partir daí criam um novo modelo de habitação colectiva, dando-se assim a ruptura do bloco, pois agora a nova tipologia consiste em casas de três andares com acesso directo para a rua, o que permite dar resposta as necessidades de habitação, uma vez que cria mais espaço urbano. Os espaços públicos são reduzidos ao mínimo e os espaços privados são mais abertos, podendo os espaços do rés-do-chão ser privado ou semi-público.


·Edifício “A Baleia”, Borneo, Amesterdão
De Architekten Cie Fritz van Dongen, 2000

Neste caso, é como se voltássemos à tipologia do quarteirão fechado, no entanto existe uma quebra da linha de cobertura e da linha que divide o chão, para que a luz entre da melhor forma possível nas habitações viradas para o pátio interior. Existe também uma abertura nos acessos para que o espaço interior de baixo seja semi-público, havendo assim uma ruptura do bloco clássico. No interior existem corredores e escadas e as habitações são divididas com múltiplas opções de divisão, obtendo assim diferentes tipologias para a criação de um bloco contínuo mas que no seu interior existe uma enorme riqueza.


·Habitações em Sanchinarro, Madrid
MVRDV, 2003

Neste conjunto de habitações, não se utiliza a tipologia do quarteirão fechado de baixa altura, mas sim em altura. Assim, o edifício funciona como um ícone desta nova forma de cidade com um buraco para que se possa observar a paisagem de Madrid através dele. Aqui, cada habitação tem a sua tipologia e os espaços de comunicação (públicos) são pintados de vermelho. Deste modo, podemos encontrar variadas possibilidades de tipologias num edifício vertical.

02. Função

02.1 Função e Utilidade

A função é uma categoria própria da arquitectura, que tenta explicar o conceito de finalidade para dar resposta a um determinado problema. É uma utilidade própria.
Aqui, a forma é vista como uma consequência lógica da função, ou seja, a forma não é a causa da função mas sim a sua consequência, levando-nos assim, ao movimento do funcionalismo em que há uma ligação estrita entre a forma e a função, sendo este último, o objectivo principal da arquitectura. No entanto, a função como categoria independente não é a mais forte da arquitectura.
·O Homem do Vitrúvio
Leonardo Da Vinci

Também Vitrúvio afirmava que a forma era uma consequência lógica da função, uma vez que a forma externa da arquitectura está intrinsecamente ligada às funções do Homem, logo este passa a ver o elemento central de todo o trabalho.

Forma = Linguagem

Uma vez que a forma é uma consequência das proporções humanas, esta está-se a ligar com o estilo arquitectónico criando uma linguagem.
Também a arquitectura egípcia apanha a essência das formas naturais e cria uma linguagem, uma vez que podem ser desenvolvidos os elementos básicos, como as colunas e lintéis, criando deste modo um estilo arquitectónico e por sua vez uma linguagem.
Assim, cada estilo arquitectónico tenta expressar um carácter humano através do percurso Forma = Linguagem = Elementos Formais Básicos = Estilos, na tentativa de dar resposta a um problema de utilidade.

S.XX: Funcionalismo

Forma = Função

Aqui, a forma deve ser a resposta lógica/directa da função, ou seja, uma consequência, e a função é a utilidade que já está presente desde a origem. Este movimento aberto e não estrito leva-nos ao funcionalismo, em que o objectivo é que a forma seja uma resposta à função.

Funcionalismo Orgânico

O funcionalismo orgânico não tem a ver com a definição de formas sinuosas mas pelo contrário, a forma depende da função e a função está a tentar criar uma ligação com o envolvente, passando a forma a ser apenas um elemento de relação com o envolvente.


·Kaufmann House, Pensilvania
Wright, F. Ll., 1936-39

Funcionalismo Plástico

·Farnsworth House
Rohe, L. M. V. D., 1945-50

É um funcionalismo um pouco mais abstracto, pois não existe simbolismo em nada; a arquitectura é o mais abstracto possível: está elevado do terreno, a cor branca para dar a noção do abstracto, a relação estrutura/forma, em que a forma não depende da estrutura, apenas em modos abstractos.

Funcionalismo Abstracto


·Pavilhão Barcelona
Rohe, L. M. V. D., 1925

Este projecto dá resposta a uma funcionalidade (espaço para exposições). Aqui, as formas têm uma essencialidade abstracta, que se verifica na limpeza entre os materiais e a forma e nas cadeiras que são o único elemento que é quase apenas para ser visto, é quase o único objecto que está exposto.

Funcionalismo Expressivo


·Universum Cinema
Mendelsohn, E, 1926-29

Com este projecto, Mendersohn concebe um espaço novo, em que a forma que lhe deu foi a melhor resposta possível a esta função, pois é esta a melhor forma para ver cinema. Esta arquitectura tem um carácter expressivo devido às formas quase em movimento.

Funcionalismo Racional


·Asilo Sant’Elia, Como
Terragni, G., 1936-37

Neste tipo de arquitectura não existe ornamento, persiste o rigor clássico e a cobertura plana, o que nos remete para um funcionalismo estrito, em que casa forma tem uma função essencial.

Funcionalismo Rígido


·Villa Savoye
Le Corbusier, 1928

É um funcionalismo racional/rígido em que a forma não é caprichosa, cada parte tem uma função rígida e a estrutura depende das necessidades humanas, ou seja, o objectivo era criar espaços úteis para o Homem.
Funcionalismo Livre

·Philarmónica Berlim
Scharoun, H., 1956

O objectivo desta obra é a ligação do objecto com a função, no entanto não há sentido funcional nele. Tinha-se aquela ideia prévia de que a forma deriva da função, no entanto a forma deste edifício é diferente em cada um dos momentos.

Origens do Funcionalismo

O funcionalismo iniciou-se com:

·“Form and Function”, 1851
Publicado em
“A Memorial of Horatio Greenough”, NY
Henry T. Tuckerman, 1853

Henry T Tuckerman escreveu o primeiro texto sobre funcionalismo, no entanto, o fundador foi Louis Sullivan.
·“Form Follows Function”
Kindergarten Chats, 1901-02
The Autobiography of na idea
Louis Sullivan, 1922-23

·Edifício Guaranty
Sullivan, L., 1894

Neste edifício existe uma articulação vertical devido ao ajuste nas sucessivas plantas, que embora tenha um carácter clássico, muito simbólico, já tenta romper com o pensamento de que a forma deriva do ornamento, uma vez que esta deriva sim da função. No entanto, o edifício Guaranty ainda tem uma ligação clássica na relação do volume e das colunas. Existe também uma analogia do edifício com o elemento formal básico – coluna, contudo, o principal não é o ornamento, havendo deste modo um diálogo entre a função e a forma.

O Funcionalismo na História

O funcional aparece em toda a História, no entanto, as formas funcionais não darão respostas a problemas de estrutura e abrigo.

·Túmulo Funerário Gobaederra
Alava, Espanha (Calcolítico)

Antes de ser um túmulo, esta obra era um abrigo, pois o Homem necessitava de um espaço útil, uma cave, o que à partida já havia uma diferenciação do espaço interior e do espaço exterior.


·Teatro/Anfiteatro Básico
Vitrúvio

Estas construções pretendem dar a melhor resposta a uma função, pois cada parte tem uma justificação funcional.


·Ponte Medieval, Lima

Uma ponte pode ter diferentes formas, no entanto a sua funcionalidade é sempre a mesma, ligar dois pontos.

·Arquitectura Japonesa

A arquitectura Japonesa é caracterizada pelo uso de elementos formais, como as palas nos telhados, com o fim de proteger e abrigar da chuva. Posteriormente, com a ajuda de ornamentos conseguem criar formas que personificam esta cultura e este tipo de arquitectura.
·Cidade ideal de Vitrúvio

Cada elemento tem uma justificação para estar naquele lugar, e com a forma arredondada, Vitrúvio pretende criar uma zona de defesas. Podemos então resumir, que cada um dos elementos do urbanismo tem uma categoria funcional à sua volta, pois o “Form Follows Function” não está apenas presente em Sullivan, pois neste caso, também a forma deriva da função/das necessidades que devem ter uma razão específica, havendo uma relação Função/ Razão.

Crítica

Lugar

Como foi referido anteriormente, o lugar condiciona a arquitectura e vice-versa. Ainda assim, a meu ver esta questão pode não representar um problema a resolver, mas antes uma fonte de inspiração para a idealização do objecto arquitectónico. Já dizia Platão que a origem do mundo contemplava o “devir” (uma cópia do “modelo”) e o “modelo” (arquétipo da cabana primitiva), e pelo que parece, também Vitrúvio partilhava das mesmas ideologias sobre a origem da arquitectura. No entanto, para Gregotti, o lugar era um primeiro momento do homem marcar um lugar. Reflectindo sobre esta última filosofia, podemos dizer então que existem vários tipos de marcações do lugar e conforme inserimos o objecto arquitectónico nesse mesmo lugar. Estas diferentes possibilidades podem ser uma mais-valia para um projecto, uma vez que incentiva ao diálogo entre o objecto arquitectónico e o lugar. Podemos ainda, sobre este tema, destacar a Land Art, uma forma de marcar a terra, que nos proporciona diferentes maneiras de perceber uma realidade, tratando-se ainda de uma nova forma de expressão de um objecto arquitectónico que modifica o lugar.
Além de todas estas técnicas, podemos ainda jogar com as características do local, como por exemplo a topografia, que pode criar uma nova forma de perceber um objecto arquitectónico relacionando-o com o lugar. O mesmo pensava Kahn.
A arquitectura tem que estar aliada ao local e ser pensada com ele desde a sua fase de idealização, em que as partes formam o todo, caso contrário teremos uma arquitectura desenquadrada do local. É necessária a fusão entre o objecto e o lugar, pois a arquitectura tem que ser capaz de o explicar.
Para uns, a arquitectura apenas está inserida num local (templos gregos), enquanto para outros, a arquitectura faz parte do lugar. Aqui, aparece então a arquitectura como contraponto ou integrada num lugar. Em ambos os casos há um diálogo entre a arquitectura e o lugar, no entanto é necessário conhecer as qualidades do lugar para depois se optar. Já dizia Frank Lloyd Wright e com razão, que primeiramente é preciso conhecer, apreender e compreender a relação entre o objecto e o lugar, e só depois actuar. Este é um arquitecto organicista uma vez que nas suas obras, a partir de elementos naturais, transforma-os em elementos artificiais para os utilizar na arquitectura. É curioso observar que embora de épocas bastante diferentes, o pensamento acaba por ser o mesmo, isto porque, como foi referido em cima, tanto Platão como Vitrúvio pensavam da mesma maneira que Frank Ll. Wright, embora em contextos um pouco diferentes. No entanto Vitrúvio era um arquitecto bastante racional, mas no que toca à relação arquitectura/lugar e elementos naturais/elementos artificiais, as ideologias são bastante semelhantes.
Frank Lloyd Wright abre novos horizontes em relação à organização do espaço, às plantas e aos cortes. Este revoluciona o conceito das casas da pradaria, com as suas novas características, pois para ele a compreensão da natureza é o que vai dar ordem à beleza. É também interessante como mais uma vez Wright tem ideologias análogas ao que veremos posteriormente quando falarmos do Le Corbusier em relação às características de plantas e cortes do sistema dominó, desde a utilização de duplas alturas, a plantas abertas e horizontalidade para dar a noção de expansão.
Finalmente, temos ainda três possibilidades de identificação com o lugar, desde a separação à orientação e ainda a integração.
O facto de reflectirmos sobre este tema do Lugar, um pequeno tópico de toda a vasta Teoria da Arquitectura, fez-nos alertar para a tão grande importância do mesmo na arquitectura, pois estes dois estão em constante tensão qualquer que seja o lugar ou o objecto arquitectónico.
01.3. O edifício como contraponto ou integração do lugar

Este é um tópico caracterizado pelo diálogo entre a arquitectura e o lugar, sendo que umas vezes esta se pode integrar no lugar e noutras actua como contraposição ao lugar. Isto tem a ver com a maneira como organizamos um edifício e como um objecto arquitectónico está organizado num lugar, havendo, deste modo, diversas possibilidades de urbanização.
Alguns exemplos de objectos arquitectónicos em contraposição com o lugar são os templos gregos, uma vez que estes estão dependentes de outras características mais específicas/causas prévias que irão condicionar a localização do templo.

·Templo Poseidon, Cabo Sunio

Este é um exemplo de um objecto arquitectónico como contraponto, uma vez que tem que responder a uma série de causas prévias que condicionam a sua localização, como a localização dos elementos sagrados que têm que estar organizados à volta do altar, sendo este último o elemento focal. Por sua vez, o altar deve ser colocado num local aberto/exterior/amplo, já que este será um lugar de contemplação da vida. Este tipo de templo está afastado da civilização e pretende, assim, transmitir a ideia de que é necessário fazer um percurso desde a civilização até ao altar, criando então um caminho de purificação. Uma outra regra é que a partir do alter se deve contemplar todo o lugar sagrado. Todos estes aspectos condicionam então toda a localização do templo devido à relação templo/altar, uma vez que o templo é o pano de fundo dos actos sagrados que acontecem no altar, e por sua vez, o altar procura dominar o envolvente para dar a ideia de que este se estende para o espaço exterior.


·Templo Afaia

Este é mais um templo em que todas as actividades sagradas estão em torno do altar. Este não é um local para viver, nem para entrar, uma vez que é lá que está o Deus, fazendo assim do templo o elemento mais importante porque serve de fundo da organização do altar, devendo o templo estar orientado para onde está o sol porque o Deus deve olhar sempre para Oeste, daí o altar ser um lugar de contemplação.

·Acropolis Atenas

Este já é um exemplo de um objecto arquitectónico que se integra no lugar, uma vez que embora os elementos serem os mesmos do templo anterior, estes são alterados consoante a topografia do local, que varia de sítio para sítio. Desta forma, os gregos, conseguem também criar novas paisagens ao utilizarem de maneira adequada a topografia para a implantação das suas edificações. Aqui, a arquitectura tem o poder de modificar o envolvente para construir uma nova paisagem. O objecto arquitectónico deve dar solução a condições prévias mas também se deve situar num local próprio.
A Acropolis, assim como a maioria dos templos, são constituídas pelos propileus (entrada/ponto de acesso para o local sagrado), pelo templo e pelo altar (deve ser visível desde os propileus). Os objectos arquitectónicos gregos, embora utilizem a sua composição e eixos de simetria, no entanto, a colocação dos elementos no lugar não seguem esta simetria.


·Templo Apolo Delfos

Neste templo, a percepção central do mesmo só +e conseguida quando se chega ao fim do percurso, ou seja, ao altar, pois durante todo o percurso até lá, as percepções são sempre diferentes. Aqui existe uma colocação livre da arquitectura, no entanto está sempre em diálogo com o lugar. O facto de a arquitectura ser condicionada pelo lugar faz com que se criem novas paisagens no lugar. Não existe simetria entre o lugar e a arquitectura nem eixos dominantes, pois a arquitectura já é algo que nasce no lugar e que também está condicionada pela topografia desse local.

Frank Lloyd Wright e o Lugar

Segundo Frank Lloyd Wright é necessário aprender e conhecer a cultura para se poder dar uma resposta. O cerne da questão reside em apreendermos os princípios, tomá-los como nossos para posteriormente os aplicarmos.
Wright utiliza as qualidades arquitectónicas para projectar e também como meio de análise de outras arquitecturas, tendo assim três grandes princípios que relacionam a arquitectura com o lugar:

1. Compromisso que o arquitecto tem que ter com o cliente;
2. Construção de uma nova paisagem/novo lugar onde a arquitectura é a peça fundamental da nova paisagem;
3. Relação da arquitectura com a natureza.

Este arquitecto utiliza a dupla concepção do espaço que distingue o espaço artificial frente ao espaço natural, e dessa forma afirma que a arquitectura se deve relacionar com a paisagem: “ A arquitectura deve ligar-se com a paisagem, valorizando-a e criando uma nova realidade/paisagem.” A arquitectura deve ser o elemento principal e fazer parte do lugar.

·Casa da Cascata
Wright, F. Ll.

Esta é uma casa em que no seu interior existe uma relação interior/exterior, uma vez que utiliza elementos naturais. É uma arquitectura do interior para o exterior.
Os seus patamares são similares a linhas de água da cascata e os muros verticais como árvores, ou seja, Wright utiliza os elementos naturais como uma forma aparente, pois tenta compreende-los como um sistema de composição espacial, sendo então esta uma nova forma de criação, concebendo uma forma artificial a partir de uma forma natural. A este fenómeno chama-se arquitectura orgânica que é o movimento arquitectónico que toma como estrutura formal os elementos naturais.

Sistemas de Composição Espacial
Os sistemas de composição espacial têm com fim a organização da arquitectura, bem como da arquitectura com o lugar.

·Blackwatch, Tartan

É a partir de tramas ortogonais como a das saias escocesas que se organiza a arquitectura, uma vez que estas têm linhas que não são equidistantes, havendo deste modo uma ordenação mais livre de cada um dos elementos.


·Martin House, Buffalo
Wright, F. Ll., 1904

Utiliza a trama em cima referida para a organização espacial deste projecto, para dar uma noção de expansão de forma livre. Tenta também transmitir a ideia de sobreposição de dois espaços internos, que sugere a cultura da esquina, ou seja, há uma quebra da esquina, criando desta forma perspectivas diagonais pela sobreposição de elementos, dando um maior dinamismo e profundidade ao espaço. No entanto, esta é uma técnica utilizada principalmente em planta.
Em corte, Frank opta por espaços com dupla altura para uma ampliação da percepção espacial.

Grande parte da obra de Frank Ll. Wright concentra-se nas casas da pradaria. Nestas casas são aplicados os sistemas de composição espacial tornando-as características ao estilo de Wright.
Assim, as casas estão em constante diálogo com o lugar, com o fim de cumprir a ideia do espaço natural frente ao espaço artificial, e as suas principais características são o facto de elas terem dois andares, em que a planta do rés-do-chão é aberta e horizontal; as coberturas têm uma inclinação muito pequena e são bastante compridas, dando assim um perfil horizontal às casas; os elementos verticais utilizados são as chaminés que saem do interior da casa e funcionam como elemento principal (“fogo”); sobreposição de planos horizontais, muitas vezes reforçada pela utilização de cor em certos elementos e ruptura da esquina; o uso de palas horizontais que forma sombra sobre o muro vertical e as janelas já não são vistas como um buraco mas sim como um elemento arquitectónico (janelas corridas), fazendo com que a luz entre horizontalmente, uma vez que esta se reflecte na pala entrando, deste modo, apenas a luz mais limpa para o interior da casa; existe ainda uma quebra da hierarquia de elementos bem como da simetria dos mesmos.
A casa surge do lugar. Esta ideia aparece devido ao uso das escadas, desvinculando a casa do solo. Aqui, a arquitectura nasce do interior para o exterior, já que há uma ligação com a vegetação, quer isto dizer que a casa não é um elemento independente uma vez que contém elementos vegetais inseridos no projecto. Cria-se também uma ideia de abertura e fluidez com o emprego dos eixos por onde os elementos crescem sobre as linhas (trama), dando novamente a ideia de expansão, e a percepção interior multiplica-se devido à sobreposição dos espaços e também pelo facto de Wright introduzir os materiais do exterior no interior.
Para Frank Lloyd Wright, a compreensão da natureza é o que vai dar ordem à beleza.

·Winslow House, Illinois
Wright, F. Ll., 1893


·Heurtley House, Illinois
Wright, F. Ll., 1902

·Taliesin House, Arizona
Wright, F. Ll., 1911-14

Esta é uma casa característica de Frank Lloyd Wright, uma vez que aqui a natureza cresce pela própria casa, já que esta está numa colina, tentando desta forma dominar o lugar, assim como o templo grego tentava dominar a acrópole. A taliesin house também tem características da casa da pradaria, no entanto Wright criou um percurso ascendente para que se tivessem diferentes percepções da casa, havendo deste modo uma tensão e um diálogo constante entre a casa e o lugar. Os materiais utilizados são os mesmos utilizados na natureza, como a pedra e a areia (para rebocos) e a cobertura não tem qualquer sistema de recolha das águas, pelo que esta escorre pela casa dando a ideia de que a casa é a própria colina. Aqui, toda a arquitectura artificial tem as mesmas qualidades da natureza à sua volta. Há a relação espaço artificial/espaço natural.

Possibilidades de Identificação com o lugar:
1. Separação
2. Orientação
3. Integração

1. Separação
Quando há uma separação entre o objecto arquitectónico e o lugar, é quando o objecto está elevado do território.

·Farnsworth House, Illinois
Rohe, M. V. D., 1950

O facto da Farnsworth estar separada do território, faz com que este se modifique, pois o objectivo é que a casa tenha o menor contacto possível com o chão. Embora muito aberta e toda envidraçada, como um miradouro, o exterior está controlado por nós e não o contrário.

2. Orientação


·Ocean Front House, Leucadia
Holl, S., 1984

A característica principal desta casa é a sua orientação frente ao envolvente.

3. Integração


·Malaparte House, Capri
Libera, A., 1938

É uma casa feita para sentir o lugar, pois parece que foi esculpida na roca e que faz parte do lugar.