quinta-feira, 25 de junho de 2009

02.3. Racionalismo/Funcionalismo


Reflectindo um pouco sobre o anteriormente estudado, sabemos que a função é a ideia principal da arquitectura do século XX; o funcionalismo é o movimento arquitectónico do movimento moderno e o racionalismo serve para perceber e encontrar as razões/explicações para todos os elementos arquitectónicos. Sabemos ainda que Le Corbusier quebra a compreensão do objecto arquitectónico com o sistema dominó e citrohan.





·Fábrica de Turbinas AEG, Berlim
Beherens, P., 1902

Na fábrica AEG a forma depende totalmente da função, pois o desenho da obra e dos elementos faz publicidade à função, ao justificar todos os elementos de formas racionais. Esta é uma obra funcionalista, em que o objectivo era fazer uma nave com uma estrutura de ferro para criar uma grande dimensão interior uma vez que lá dentro teria as turbinas. Além de dar resposta à função, este edifício também tem outros aspectos que definem a sua forma, como a ideia de conversão da fábrica num templo para dar a noção de monumentalidade num edifício industrial. Há também uma nova interpretação da ordem e da tectónica de construção, em que cada pormenor está justificado e cada elemento está materializado segundo a função a desempenhar. Aqui, o aço é o elemento principal da construção e o tal carácter de monumentalidade reflecte-se nas colunas deixadas à vista dando a noção de templo e a cobertura como frontão. Esta não só é uma obra funcional como também muito racionalista, devido aos factores económicos, construtivos e sociais.

Princípios da Arquitectura Racionalista


Estes princípios dependem da situação política, económica e sociais da época.

1. Princípio Globalizador


Trata-se de um movimento internacional com um estilo internacional, ou seja, o arquitecto é capaz de trabalhar em qualquer lugar, é um arquitecto global, em termos de localização e de todos os factores em que tem que trabalhar para construir num determinado sítio.


·Bauhaus, Dessau
Gropius, W., 1926

2. Princípio da Austeridade


O arquitecto deve procurar sistemas construtivos baratos mas complexos. Aqui utiliza-se uma linguagem sem ornamento, uma vez que no princípio da austeridade, um dos pontos principais é a economia. Assim, utiliza a fachada livre, paredes brancas, vãos iguais e ainda faz um estudo sobre o aproveitamento do solo.



·Casa Steiner, Viena
Loos, A., 1910

3. Princípio Industrial


O edifício é visto como uma máquina em que cada elemento apenas serve para uma função específica, assim como acontecia para os racionalistas. Não há ornamento uma vez que este não responde a nenhuma função/objectivo, e transmite ainda uma ideia de fabricação em série, o que apoia a austeridade porque é mais económico, procurando assim uma estandardização da arquitectura.

·Maison Mas
Le Corbusier, 1938

4. Princípio Prioritário do Urbanismo


A arquitectura começa já no urbanismo, devido à falta de novas habitações o urbanismo deve vir antes do objecto arquitectónico para solucionar os problemas de localização, sendo a melhor solução os distritos urbanos. O urbanismo já é arquitectura uma vez que a influencia na sua localização.

·Plan Voisin, Paris
Le Corbusier, 1922

5. Princípio Social

A arquitectura surge como um resultado metodológico como solução de outros factores. Aqui a forma não está a tender para ideias pessoais ou subjectivas, mas para um controlo na sociedade. Pretende dar solução aos problemas da época.
·Cidade Operária Pessac, Bordeaux
Le Corbusier, 1925

Walter Gropius, 1883-1969


Walter gropius era um funcionalista. Este era o seu método próprio de trabalho. Compreendia a razão segundo três fases:

1. Procura teórica de todos os factores que intervêm em cada projecto;
2. Aplicação prática de tudo aquilo que era formulado teoricamente anteriormente;
3. Acto criativo de casa arquitecto.

Para ele, a razão deve ser o elemento principal para que a arte esteja ligada à sociedade.


·Fábrica Fagus, Alfel na der leine
Gropius, W., 1911

Esta fábrica é uma influência da fábrica AEG de Peter Beherens. A arquitectura da fábrica Fagus está ligada às actividades industriais e é isso que irá dar sentido a toda a sua obra. Nas esquinas não existe estrutura, uma novidade para a época, e assim cria a ideia de dissolução dos muros, pois a fachada é concebida de forma envidraçada, como a planta livre de Corbusier.
Walter Gropius compreende a arquitectura como a oportunidade de cada uma das partes apenas responder a uma função específica. Assim, se há a necessidade de introduzir luz, fazem-se fachadas envidraçadas e se são necessários suportes entre os vãos, então esses suportes serão mostrados. Aqui Gropius consegue que não haja diferenças entre a composição horizontal e a composição vertical, pois a fachada é plana, sem qualquer hierarquia entre o elemento vertical e o horizontal. A planta é assim uma sucessão de espaços ortogonais que nascem uns sobre os outros com o fim de criar um conjunto, e cada espaço tem a sua função. É também visível uma geometria estrita em termos de ortogonalidade e desde o exterior conseguimos perceber a estrutura do interior.

·Projecto para Edifício de Habitações
Gropius, W., 1929

Esta construção de habitações colectivas vem no seguimento do racionalismo, como forma de poder oferecer condições de salubridade tão boas como as habitações unifamiliares, contribuindo deste modo, para criar mais espaço urbano e uma maior extensão/elevação. A implantação da arquitectura sobre o terreno relaciona-se de uma forma métrica/matemática, onde existe uma razão estrita de como se deveria implantar o edifício no terreno. Estamos assim perante o Princípio Social, uma vez que todas as unidades de habitação apresentam as mesmas condições com o fim da igualdade social. Aqui Gropius liga duas tipologias: a escada de distribuição e o corredor de ligação das diferentes habitações. Deste modo, há uma tentativa de standardização de uma unidade mínima para que posteriormente possa ser repetida formando todo o bloco.


·Siemmensstadl Siedlung, Berlim
Gropius, W., 1929

Neste bloco todos as habitações têm a mesma orientação, de forma a sugerir os princípios de igualdade social, cujos principais problemas incidem no facto de embora as cidades ganhem espaços livres, a sua construção trás problemas de mobilidade interior do edifício, surgindo assim a necessidade de um elevador. Ora, o elevador era um sistema novo para a época, contrariando assim o factor económico de construção, bem como os problemas sociais acrescidos, pois as pessoas não estavam habituadas a estas novas formas de construção. Outro grande problema é a nível do urbanismo, uma vez que esta tipologia não tem a possibilidade de se ligar com a cidade clássica/antiga já que apenas pode ser construído na periferia e desenquadra-se da construção antiga.

Classificação do Funcionalismo

1. Funcionalismo Estrito
2. Funcionalismo Geométrico
3. Funcionalismo Orgânico

1. Funcionalismo Estrito

O funcionalismo estrito baseia-se em projectos onde existe uma distribuição geométrica precisa para cada uma das funções do objecto arquitectónico, gerando assim a sua volumetria, pois a função do interior define grande parte do objecto.
·Bauhaus, Dessau
Gropius, W., 1926

De origem Neues Bauen – nova construção, surge aqui uma nova forma de compreensão dos edifícios, em que cada volume do edifício é compreendido segundo uma função interior específica. Deste modo, este caracteriza-se como um agrupamento livre dos corpos construtivos, mas com um sistema compositivo prévio, em que há a recusa de simetria e gera-se uma nova ideia de perspectiva do edifício (este devia ser percebido de diferentes pontos de vista), só teremos a percepção global do mesmo se andarmos ao seu redor, quebrando assim a perspectiva clássica do homem parado. A Bauhaus está composta pela sobreposição de edifícios, em que cada um tem uma determinada função, e por isso também são utilizadas as janelas corridas, devido à importância da luz para se poderem desenvolver as práticas manuais dos estudantes. Este complexo é ainda composto por uma residência, onde estudantes e docentes partilham das mesmas condições para que não haja a noção de hierarquias. Existem ainda múltiplas ligações entre os diferentes edifícios, desde ligações horizontais entre residências e ateliers a ligações verticais entre os diferentes núcleos e gabinetes. Utiliza também a esquina quebrada (envidraçada) como forma de entrada de luz e as paredes já não têm a função de estrutural, podendo assim abrir-se completamente num vidro. Gropius tenta mais uma vez evitar as hierarquias não havendo então nenhuma fachada principal, ou seja, todas as fachadas são principais. Toda esta linguagem formal do exterior tem influência nos princípios da arquitectura racionalista.

2. Funcionalismo Geométrico

A geometria é o elemento principal que liga o objecto com a função para optimizar o espaço interior. Já não se trata de uma questão de espaço, pois a geometria vem dar resposta à função.

·Sanatório Zonnestral, Hilversum
Duiker, J., 1926

Este sanatório é composto por vários pavilhões e habitações intersectadas por corredores, para que o doente pudesse apanhar sol. Esta tipologia resultou de um estudo feito através de uma trama, acabando a repetição da geometria por criar o edifício completo, sendo que primeiramente foi estudada apenas uma célula mínima que posteriormente foi multiplicada e repetida formando assim todo o edifício.
·Hospital de Veneza
Le Corbusier, 1964

Para a construção deste hospital utilizou-se uma trama de baixa altitude (de modo a não competir com a altura da cidade) que vai crescendo. O módulo de geração do hospital foi repetido e colocado de diferentes maneiras dando origem ao resto do edifício. Existe também uma trama em que vários elementos são retirados para que haja a entrada de luz e a formação de pátios seja possível. Foi ainda estudada uma área mínima para os doentes que configuram a geometria de todo o conjunto.

Funcionalismo Orgânico


Existe uma relação harmónica entre o todo e cada uma das partes. Não existe qualquer hierarquia, apenas uma harmonia do como compreendemos o edifício no seu todo. Existe uma relação entre a forma e a função sendo que aqui não dependem uma da outra.


·Escritório Johnson & Son Company
Wright, F. Ll., 1936-39

Para a construção deste escritório houve uma compreensão dos elementos formais da natureza para serem posteriormente utilizados na arquitectura. O edifício foi concebido por uma multiplicidade de espaços que necessitam de iluminação, e para tal foram criadas estruturas em forma de cogumelo constituindo assim uma cobertura envidraçada e que definem a colocação das mesas do escritório, e é desta forma que apenas com um elemento que é repetido se consegue fazer uma entrada de luz fora do vulgar. Também a fachada é completamente envidraçada uma vez que a sua intensidade construtiva está numa coluna no meio que suporta todo o edifício ficando assim os andares suspensos. Aqui se demonstra o organicismo, em que o arquitecto tem de compreender a estrutura formal do elemento natural para posteriormente chegar à arquitectura.

Definições da Funcionalidade

1. Funcionalidade Técnica (Função – Forma)

Na funcionalidade técnica, “form follows function”, ou seja, há a perfeita adequação da forma à função.

2. Funcionalidade Existencial (Função – Habitar)

A funcionalidade existencial dá a possibilidade do Homem ter um lugar para habitar, havendo assim uma compreensão do conceito de lar.

3. Funcionalidade Utilitária (Função – Uso)

O uso interior é o que define a importância da função da arquitectura; é o programa dos edifícios.

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