quinta-feira, 25 de junho de 2009

01.3. O edifício como contraponto ou integração do lugar

Este é um tópico caracterizado pelo diálogo entre a arquitectura e o lugar, sendo que umas vezes esta se pode integrar no lugar e noutras actua como contraposição ao lugar. Isto tem a ver com a maneira como organizamos um edifício e como um objecto arquitectónico está organizado num lugar, havendo, deste modo, diversas possibilidades de urbanização.
Alguns exemplos de objectos arquitectónicos em contraposição com o lugar são os templos gregos, uma vez que estes estão dependentes de outras características mais específicas/causas prévias que irão condicionar a localização do templo.

·Templo Poseidon, Cabo Sunio

Este é um exemplo de um objecto arquitectónico como contraponto, uma vez que tem que responder a uma série de causas prévias que condicionam a sua localização, como a localização dos elementos sagrados que têm que estar organizados à volta do altar, sendo este último o elemento focal. Por sua vez, o altar deve ser colocado num local aberto/exterior/amplo, já que este será um lugar de contemplação da vida. Este tipo de templo está afastado da civilização e pretende, assim, transmitir a ideia de que é necessário fazer um percurso desde a civilização até ao altar, criando então um caminho de purificação. Uma outra regra é que a partir do alter se deve contemplar todo o lugar sagrado. Todos estes aspectos condicionam então toda a localização do templo devido à relação templo/altar, uma vez que o templo é o pano de fundo dos actos sagrados que acontecem no altar, e por sua vez, o altar procura dominar o envolvente para dar a ideia de que este se estende para o espaço exterior.


·Templo Afaia

Este é mais um templo em que todas as actividades sagradas estão em torno do altar. Este não é um local para viver, nem para entrar, uma vez que é lá que está o Deus, fazendo assim do templo o elemento mais importante porque serve de fundo da organização do altar, devendo o templo estar orientado para onde está o sol porque o Deus deve olhar sempre para Oeste, daí o altar ser um lugar de contemplação.

·Acropolis Atenas

Este já é um exemplo de um objecto arquitectónico que se integra no lugar, uma vez que embora os elementos serem os mesmos do templo anterior, estes são alterados consoante a topografia do local, que varia de sítio para sítio. Desta forma, os gregos, conseguem também criar novas paisagens ao utilizarem de maneira adequada a topografia para a implantação das suas edificações. Aqui, a arquitectura tem o poder de modificar o envolvente para construir uma nova paisagem. O objecto arquitectónico deve dar solução a condições prévias mas também se deve situar num local próprio.
A Acropolis, assim como a maioria dos templos, são constituídas pelos propileus (entrada/ponto de acesso para o local sagrado), pelo templo e pelo altar (deve ser visível desde os propileus). Os objectos arquitectónicos gregos, embora utilizem a sua composição e eixos de simetria, no entanto, a colocação dos elementos no lugar não seguem esta simetria.


·Templo Apolo Delfos

Neste templo, a percepção central do mesmo só +e conseguida quando se chega ao fim do percurso, ou seja, ao altar, pois durante todo o percurso até lá, as percepções são sempre diferentes. Aqui existe uma colocação livre da arquitectura, no entanto está sempre em diálogo com o lugar. O facto de a arquitectura ser condicionada pelo lugar faz com que se criem novas paisagens no lugar. Não existe simetria entre o lugar e a arquitectura nem eixos dominantes, pois a arquitectura já é algo que nasce no lugar e que também está condicionada pela topografia desse local.

Frank Lloyd Wright e o Lugar

Segundo Frank Lloyd Wright é necessário aprender e conhecer a cultura para se poder dar uma resposta. O cerne da questão reside em apreendermos os princípios, tomá-los como nossos para posteriormente os aplicarmos.
Wright utiliza as qualidades arquitectónicas para projectar e também como meio de análise de outras arquitecturas, tendo assim três grandes princípios que relacionam a arquitectura com o lugar:

1. Compromisso que o arquitecto tem que ter com o cliente;
2. Construção de uma nova paisagem/novo lugar onde a arquitectura é a peça fundamental da nova paisagem;
3. Relação da arquitectura com a natureza.

Este arquitecto utiliza a dupla concepção do espaço que distingue o espaço artificial frente ao espaço natural, e dessa forma afirma que a arquitectura se deve relacionar com a paisagem: “ A arquitectura deve ligar-se com a paisagem, valorizando-a e criando uma nova realidade/paisagem.” A arquitectura deve ser o elemento principal e fazer parte do lugar.

·Casa da Cascata
Wright, F. Ll.

Esta é uma casa em que no seu interior existe uma relação interior/exterior, uma vez que utiliza elementos naturais. É uma arquitectura do interior para o exterior.
Os seus patamares são similares a linhas de água da cascata e os muros verticais como árvores, ou seja, Wright utiliza os elementos naturais como uma forma aparente, pois tenta compreende-los como um sistema de composição espacial, sendo então esta uma nova forma de criação, concebendo uma forma artificial a partir de uma forma natural. A este fenómeno chama-se arquitectura orgânica que é o movimento arquitectónico que toma como estrutura formal os elementos naturais.

Sistemas de Composição Espacial
Os sistemas de composição espacial têm com fim a organização da arquitectura, bem como da arquitectura com o lugar.

·Blackwatch, Tartan

É a partir de tramas ortogonais como a das saias escocesas que se organiza a arquitectura, uma vez que estas têm linhas que não são equidistantes, havendo deste modo uma ordenação mais livre de cada um dos elementos.


·Martin House, Buffalo
Wright, F. Ll., 1904

Utiliza a trama em cima referida para a organização espacial deste projecto, para dar uma noção de expansão de forma livre. Tenta também transmitir a ideia de sobreposição de dois espaços internos, que sugere a cultura da esquina, ou seja, há uma quebra da esquina, criando desta forma perspectivas diagonais pela sobreposição de elementos, dando um maior dinamismo e profundidade ao espaço. No entanto, esta é uma técnica utilizada principalmente em planta.
Em corte, Frank opta por espaços com dupla altura para uma ampliação da percepção espacial.

Grande parte da obra de Frank Ll. Wright concentra-se nas casas da pradaria. Nestas casas são aplicados os sistemas de composição espacial tornando-as características ao estilo de Wright.
Assim, as casas estão em constante diálogo com o lugar, com o fim de cumprir a ideia do espaço natural frente ao espaço artificial, e as suas principais características são o facto de elas terem dois andares, em que a planta do rés-do-chão é aberta e horizontal; as coberturas têm uma inclinação muito pequena e são bastante compridas, dando assim um perfil horizontal às casas; os elementos verticais utilizados são as chaminés que saem do interior da casa e funcionam como elemento principal (“fogo”); sobreposição de planos horizontais, muitas vezes reforçada pela utilização de cor em certos elementos e ruptura da esquina; o uso de palas horizontais que forma sombra sobre o muro vertical e as janelas já não são vistas como um buraco mas sim como um elemento arquitectónico (janelas corridas), fazendo com que a luz entre horizontalmente, uma vez que esta se reflecte na pala entrando, deste modo, apenas a luz mais limpa para o interior da casa; existe ainda uma quebra da hierarquia de elementos bem como da simetria dos mesmos.
A casa surge do lugar. Esta ideia aparece devido ao uso das escadas, desvinculando a casa do solo. Aqui, a arquitectura nasce do interior para o exterior, já que há uma ligação com a vegetação, quer isto dizer que a casa não é um elemento independente uma vez que contém elementos vegetais inseridos no projecto. Cria-se também uma ideia de abertura e fluidez com o emprego dos eixos por onde os elementos crescem sobre as linhas (trama), dando novamente a ideia de expansão, e a percepção interior multiplica-se devido à sobreposição dos espaços e também pelo facto de Wright introduzir os materiais do exterior no interior.
Para Frank Lloyd Wright, a compreensão da natureza é o que vai dar ordem à beleza.

·Winslow House, Illinois
Wright, F. Ll., 1893


·Heurtley House, Illinois
Wright, F. Ll., 1902

·Taliesin House, Arizona
Wright, F. Ll., 1911-14

Esta é uma casa característica de Frank Lloyd Wright, uma vez que aqui a natureza cresce pela própria casa, já que esta está numa colina, tentando desta forma dominar o lugar, assim como o templo grego tentava dominar a acrópole. A taliesin house também tem características da casa da pradaria, no entanto Wright criou um percurso ascendente para que se tivessem diferentes percepções da casa, havendo deste modo uma tensão e um diálogo constante entre a casa e o lugar. Os materiais utilizados são os mesmos utilizados na natureza, como a pedra e a areia (para rebocos) e a cobertura não tem qualquer sistema de recolha das águas, pelo que esta escorre pela casa dando a ideia de que a casa é a própria colina. Aqui, toda a arquitectura artificial tem as mesmas qualidades da natureza à sua volta. Há a relação espaço artificial/espaço natural.

Possibilidades de Identificação com o lugar:
1. Separação
2. Orientação
3. Integração

1. Separação
Quando há uma separação entre o objecto arquitectónico e o lugar, é quando o objecto está elevado do território.

·Farnsworth House, Illinois
Rohe, M. V. D., 1950

O facto da Farnsworth estar separada do território, faz com que este se modifique, pois o objectivo é que a casa tenha o menor contacto possível com o chão. Embora muito aberta e toda envidraçada, como um miradouro, o exterior está controlado por nós e não o contrário.

2. Orientação


·Ocean Front House, Leucadia
Holl, S., 1984

A característica principal desta casa é a sua orientação frente ao envolvente.

3. Integração


·Malaparte House, Capri
Libera, A., 1938

É uma casa feita para sentir o lugar, pois parece que foi esculpida na roca e que faz parte do lugar.

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