quinta-feira, 25 de junho de 2009

Crítica

Lugar

Como foi referido anteriormente, o lugar condiciona a arquitectura e vice-versa. Ainda assim, a meu ver esta questão pode não representar um problema a resolver, mas antes uma fonte de inspiração para a idealização do objecto arquitectónico. Já dizia Platão que a origem do mundo contemplava o “devir” (uma cópia do “modelo”) e o “modelo” (arquétipo da cabana primitiva), e pelo que parece, também Vitrúvio partilhava das mesmas ideologias sobre a origem da arquitectura. No entanto, para Gregotti, o lugar era um primeiro momento do homem marcar um lugar. Reflectindo sobre esta última filosofia, podemos dizer então que existem vários tipos de marcações do lugar e conforme inserimos o objecto arquitectónico nesse mesmo lugar. Estas diferentes possibilidades podem ser uma mais-valia para um projecto, uma vez que incentiva ao diálogo entre o objecto arquitectónico e o lugar. Podemos ainda, sobre este tema, destacar a Land Art, uma forma de marcar a terra, que nos proporciona diferentes maneiras de perceber uma realidade, tratando-se ainda de uma nova forma de expressão de um objecto arquitectónico que modifica o lugar.
Além de todas estas técnicas, podemos ainda jogar com as características do local, como por exemplo a topografia, que pode criar uma nova forma de perceber um objecto arquitectónico relacionando-o com o lugar. O mesmo pensava Kahn.
A arquitectura tem que estar aliada ao local e ser pensada com ele desde a sua fase de idealização, em que as partes formam o todo, caso contrário teremos uma arquitectura desenquadrada do local. É necessária a fusão entre o objecto e o lugar, pois a arquitectura tem que ser capaz de o explicar.
Para uns, a arquitectura apenas está inserida num local (templos gregos), enquanto para outros, a arquitectura faz parte do lugar. Aqui, aparece então a arquitectura como contraponto ou integrada num lugar. Em ambos os casos há um diálogo entre a arquitectura e o lugar, no entanto é necessário conhecer as qualidades do lugar para depois se optar. Já dizia Frank Lloyd Wright e com razão, que primeiramente é preciso conhecer, apreender e compreender a relação entre o objecto e o lugar, e só depois actuar. Este é um arquitecto organicista uma vez que nas suas obras, a partir de elementos naturais, transforma-os em elementos artificiais para os utilizar na arquitectura. É curioso observar que embora de épocas bastante diferentes, o pensamento acaba por ser o mesmo, isto porque, como foi referido em cima, tanto Platão como Vitrúvio pensavam da mesma maneira que Frank Ll. Wright, embora em contextos um pouco diferentes. No entanto Vitrúvio era um arquitecto bastante racional, mas no que toca à relação arquitectura/lugar e elementos naturais/elementos artificiais, as ideologias são bastante semelhantes.
Frank Lloyd Wright abre novos horizontes em relação à organização do espaço, às plantas e aos cortes. Este revoluciona o conceito das casas da pradaria, com as suas novas características, pois para ele a compreensão da natureza é o que vai dar ordem à beleza. É também interessante como mais uma vez Wright tem ideologias análogas ao que veremos posteriormente quando falarmos do Le Corbusier em relação às características de plantas e cortes do sistema dominó, desde a utilização de duplas alturas, a plantas abertas e horizontalidade para dar a noção de expansão.
Finalmente, temos ainda três possibilidades de identificação com o lugar, desde a separação à orientação e ainda a integração.
O facto de reflectirmos sobre este tema do Lugar, um pequeno tópico de toda a vasta Teoria da Arquitectura, fez-nos alertar para a tão grande importância do mesmo na arquitectura, pois estes dois estão em constante tensão qualquer que seja o lugar ou o objecto arquitectónico.

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