quinta-feira, 25 de junho de 2009

01. Lugar

01.1 A posição da Arquitectura no contexto

Nesta categoria há uma relação entre a Arquitectura e o Lugar, uma vez que o lugar pode condicionar a Arquitectura devido à sua influência sobre o terreno, podendo também acontecer inverso, em que a Arquitectura condiciona o Lugar.
O contexto na posição da arquitectura refere-se ao como o Objecto Arquitectónico se situa num determinado lugar. Para tal, é necessário saber:
·Situar o objecto;
·O porquê desta acção;
·As diferentes possibilidades de posicionamento da arquitectura num lugar.

Teoria da origem do mundo de Platão

O “ser”: Modelo
O “Devir”: Imagem

“Essai sur l´Arquitecture”
Laugier, M. A. 1753

Aqui, a Cabana primitiva surge como a ideia de copiar um modelo que já existe na natureza. O modelo é o que é copiado (ser), é o arquétipo da cabana primitiva, que é construída com diversos elementos. A imagem é o devir, uma cópia real do modelo inicial. Um exemplo de imagem é a ordem coríntia que utiliza diversos elementos de um vaso com plantas, copiando-os para as suas colunas.
Platão dizia: “O cosmos é perfeito e foi feito assim mesmo por causa da sua perfeição”
Portanto, os elementos que vemos são sempre cópias de um elemento perfeito.



















“Cabana Primitiva”
Vitrúvio

Segundo Vitrúvio, a cabana primitiva era construída com elementos naturais, convertendo-os em pedra e templos, criando assim diálogo entre o mundo natural e o mundo artificial. Deste modo, é possível explicar a origem de qualquer elemento ou objecto arquitectónico, pelo facto de qualquer elemento ser a cópia de um elemento inicial.

Também uma cidade pode ser explicada como cópia de um elemento inicial.
“Cardo-Decumanus” – orienta o território, o lugar.
O modelo encontra-se na natureza. Uma cidade não é uma cópia de um elemento externo, mas sim o primeiro acto de situação do Homem sobre o lugar. É a acção de encontrar o lugar, situá-lo e posteriormente colocar lá os elementos/ objectos arquitectónicos.

“ A origem da arquitectura não está na cabana primitiva, mas sim no primeiro momento/ acto de marcar o lugar.”
“ Antes de colocar pedra sobre pedra, o Homem coloca uma pedra sobre a terra.”
Vittorio Gregotti

Segundo Gregotti, o Homem não imita o modelo inicial, apenas escolhe o lugar para o transformar – relação do Homem com a terra. O lugar faz parte da arquitectura, ou seja, a cidade não está colocada no lugar, mas tem as qualidades do lugar e é um lugar transformado.
Deste modo verifica-se uma ligação da arquitectura com o lugar:







·Teatros Gregos e Romanos

Aqui quase que não existe a intervenção da arquitectura.


· Faculdade de Arquitectura do Porto
Siza, A. 1993

O mais importante não é a construção, mas sim a implantação no lugar.

Para Louis Kahn, a Arquitectura é uma instituição determinada e o espaço arquitectónico é a conjugação da instituição com a paisagem, ou seja, o carácter do objecto arquitectónico e o elemento externo.

Posição da Arquitectura no Contexto
Uma vez que a posição da arquitectura no contexto se refere à acção humana da eleição do lugar, esta eleição pode ser feita de várias formas:

1. Marca
2. Limite
3. Caminho
4. Caminho = Espaço
5. Trama
6. Intersecção
7. Encruzilhada

1. Marca
Uma marca consiste na colocação de um ponto num determinado local.













·A crossing line
Richard Long



















·Veneza

Na cidade de Veneza podemos delinear os seus limites. Por analogia temos uma ilha que é como uma marca natural no mar. Deste modo, o Homem pode marcar a colocação da ilha com o universo se construir casas até ao seu limite com o mar.

·Área de descanso, Pirinéus
Battle-Roig 1991-94

Esta área consiste na colocação de uma série de muros interiores e exteriores. Estes muros criam uma relação de dentro/ fora sobre um determinado lugar.














·Chandigarth
Le Corbusier

Le Corbusier marca o recinto de intervenção pela colocação de pedras com o intuito de fazer a sua divisão e ainda para que percebamos qual a área de intervenção sobre o território. Há um controlo da geometria, da superfície e de espaços interiores e exteriores, feito através da colocação de um elemento sobre o território.











·Villa Paul Poiret
Le Corbusier 1916

Aqui, quatro pedras limitam a área de intervenção. Não se trata do limite do edifício mas sim do projecto. Deste modo, Le Corbusier define qualidades arquitectónicas frente a um espaço aberto/ exterior.

















·Edifício Polivalente, Teruel (Espanha)
Tuñon & Mansilla 2001

Este edifício tem por objectivo deixar uma pegada no lugar, criando assim uma tensão entre a arquitectura e o lugar.
Quanto maior for o edifício, mais reconhecíveis devem ser as pegadas no território e não na arquitectura.
Neste caso, a cruz será a marca/ objecto colocado no lugar e a cobertura funciona como uma quinta fachada, uma vez que foi feita para ser vista ao longe.















·Complexo Desportivo Grand Slam, Madrid (Espanha)
Tuñon & Mansilla 2002

Neste complexo, há uma parte do edifício (elemento principal) que funciona como uma marca no território, devido às suas aberturas (ligação interior/exterior do edifício) e às suas diferentes formas.

2. Limite














·Muralha Romana, Escócia

A muralha permite estabelecer um limite entre duas partes de um lugar. Limita dois lugares diferentes. Permite marcar um território.

·Templo Saakara

Este templo tentava separar o mundo dos deuses do mundo dos humanos. Este é limitado por uma muralha que divide estes dois mundos. No interior encontra-se o mundo dos deuses e no exterior o mundo dos humanos. É a divisão de duas qualidades diferentes.









·Templo Hatshepsut

Este templo transpõe uma ascensão em diferentes patamares, ou seja, a ideia de um percurso como forma de chegar ao Deus. Este percurso deve-se aos limites em altura do templo.





·Ha-ha Royal Crescent

O Royal Crescent é constituído por blocos semicirculares com jardins limitados por uma linha de percepção, ou seja, um pequeno muro onde se podem encontrar pessoas no patamar de cima e animais na parte de baixo. Aqui, estes limites geram uma relação do mundo natural e o jardim artificial.
















·Catedral Chartres

Esta é uma catedral caracterizada pelo desenho de um labirinto no chão, no seu interior que simboliza o percurso de uma peregrinação. Este labirinto cria uma relação entre o que se passa por fora do labirinto e o que se passa por dentro do mesmo. Podemos dizer ainda que este limite cria um caminho interior.




















·Hampton Court

É um outro labirinto, onde as pessoas podem circular no seu interior, criando assim diferentes percepções, conforme se está no interior ou no exterior do labirinto, devido ao limite criado pelas sebes.

3. Caminho como separador de lugares




















·Cardo-Decumanus

O cardo-decumanus caracteriza-se como um caminho, uma vez que este consegue fazer a união entre dois lugares, bem como criar relações entre duas áreas diferentes, sendo que estes dois lugares/ áreas estão separados/ as pelo próprio caminho. Há uma relação de união/ separação.

























·Via Apia

Esta via é criada com o objectivo de se conseguir comunicar entre duas áreas diferentes de uma cidade. Pode servir para separar distintas áreas, como pode uni-las, bem como as funções que exercem.




















·Muralha da China

A muralha da China tem por um lado um carácter de separação do território e por outro como um caminho que permite a ligação dos diferentes territórios.


















·Avenida dos carneiros Karnak

Nesta avenida há uma relação interior/ exterior que está associada à colocação das esculturas nas partes laterais do caminho, criando assim uma outra relação interior/ exterior entre o interior do templo e o exterior do caminho. Aqui, as esculturas definem a qualidade deste espaço exterior.

4. Caminho como gerador de espaço arquitectónico
O caminho como gerador de espaço arquitectónico tem como objectivo unir/ separar dois lugares. Aqui, o caminho é visto como lugar ou espaço arquitectónico.










·Urbanização Rio Janeiro
Le Corbusier, 1920

Para este projecto, Le Corbusier projectou um único bloco com uma auto-estrada por cima. Este bloco acaba por ser uma conexão entre dois pontos da cidade do Rio de Janeiro. O bloco actua como um caminho ou uma estrada de funções que une dois lugares diferentes.















·Urbanização Argel
Le Corbusier, 1930

Esta urbanização, do género da do Rio de Janeiro, é caracterizada por ter habitações na parte inferior de uma auto-estrada, ou seja, a cobertura do bloco é uma auto-estrada ao longo da costa, havendo, deste modo, uma conexão real entre os habitantes e o caminho. Aqui, a circulação dos veículos irá condicionar o caminho.























·Park House, Amesterdão
N L Architects, 1996

Este edifício é definido pelo caminho que cria o próprio parque, que consequentemente, cria a cobertura do edifício. Então, a ideia do caminho gera o espaço arquitectónico. Podemos ainda dizer que existe uma relação carro/ cidade e automóvel/ centro comercial (edifício).

5. Trama
Neste item, pode-se dizer que a trama é uma forma de relacionar o objecto arquitectónico com o envolvente, pois a sua ortogonalidade funciona como organizadora reticular, dando a ideia de extensão sem limites sobre um território. É um meio de expansão.















·Campo de cores
Mondrian, 1919

Este é um exemplo da utilização da trama na pintura, uma vez que cria uma abstracção geométrica.















·Cidade de Mileto

A cidade de Mileto é organizada a partir de uma trama que nos possibilita estender por todo o território, podendo chegar até ao limite natural, ou seja, dá uma ideia da trama sem ter em conta as topografias do terreno.


















·Cidade do México

Esta cidade é composta por quarteirões em que não existe um eixo dominante.
A trama é vista como múltiplas possibilidades de construção urbana.

6. Intersecção
Numa intersecção o caminho não é o elemento principal, mas sim o seu ponto de intersecção. Este é um lugar onde acontecem diferentes coisas, devido ao cruzamento de duas linhas diferentes, utilizando-as assim para a criação de um espaço arquitectónico.









·Piazza di Popolo, Roma

Esta praça contém um obelisco que representa a intersecção das várias vias de comunicação de Roma. Este é o elemento de referência de cada uma das ruas, ou seja, um ícone com sentido de cruz.

















·Cidade de Palermo

Existe um corte na cidade antiga, para que esta se ligue com o resto da cidade. Para tal, é criada uma praça onde está a intersecção dos dois caminhos, referenciada pela Piazza di Quattro Canti.











·San Carlino Alle Quattro Fontane, Roma

Esta igreja encontra-se numa intersecção de duas das quatro ruas. Aqui, uma fonte é construída na intersecção de dois caminhos, e cada esquina contém uma fonte.

7. A encruzilhada como organizadora de espaços
Por encruzilhada entende-se várias intersecções onde existe uma hierarquia entre dois caminhos, ou seja, entre dois caminhos sobrepostos, é possível entender qual é o caminho principal.

















·Boogie-Woogie
Mondrian, 1942

Nesta pintura, as cores estão superiores a uma trama branca.












·Centro de Artes Visuais e Biblioteca, Universidade Ohio
Peter Eisenman, 1983 – 89

Peter Eisenman pretende colocar este edifício entre as tramas já existentes no local e criando ainda mais tramas no próprio edifício. Aqui, o factor tempo já existe ainda antes da construção do projecto, uma vez que a própria marcação do edifício no local já tem esta quarta dimensão.

Land Art – A marca na terra
A Land Art é mais uma das formas de expressão de um objecto artístico que consiste em trabalhar com/ na terra, provocando relações entre os espectadores e a terra. Aqui, a ideia essencial a transmitir é a de que a terra é a matéria-prima para a construção desse mesmo objecto artístico, perdendo-se então o seu sentido comercial devido ao seu carácter temporário num determinado local. Nas obras de Land Art existe um momento artístico que é aquele em que se determina o modo de como a obra será apresentada.
Esta marca no território é feita através de acções humanas, podendo, no entanto serem usados elementos naturais/próprios do lugar. O objectivo principal é mudar a percepção do lugar através destas acções durante um determinado período de tempo.












·Line and Tracks
Richard Long







·Sun Tunnels
Nancy Holt













·Spiral Jetty
Robert Smithson











·Campo de RelâmpagosWalter de Maria














·The Gates
Christo & Jeanne Claude












·Umbrellas
Christo & Jeanne Claude

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